Uni versos e versos

Uni versos e versos
by gabi grisi

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Triste andarilha

Charles Baudelaire, tradução, Jorge Pontual


Teu coração, Ágata, costuma voar?
Longe do negro mar da imunda cidade,
Para um outro oceano de esplendor sem par,
Azul, claro, profundo como a virgindade,
Teu coração, Ágata, costuma voar?

O mar, o vasto mar consola nossas dores!
Que demônio deu à fala rouca do mar,
Ao som do imenso órgão dos ventos cantores
Esta missão sublime de nos embalar?
O mar, o vasto mar consola nossas dores!

Seqüestra-me, fragata! leva-me, vagão!
Para longe! Aqui o choro vira lama!
Será de Ágata o triste coração
Que diz: longe das dores, dos crimes, do drama,
Seqüestra-me, fragata, leva-me, vagão?

Como estás longe, paraíso perfumado,
Onde só um amor feliz pode viver,
Onde o que se ama merece ser amado,
Onde a alma se afoga no puro prazer!
Como estás longe, paraíso perfumado!

Mas o paraíso da primeira paixão,
As festas, os buquês, os beijos, as canções,
Violinos vibrando à tarde no verão,
À noite, nos bosquinhos, vinho aos borbotões
-- Mas o paraíso da primeira paixão,

O paraíso infantil do prazer furtivo
Estará mais longe que a Índia e o Nepal?
Pode chamá-lo nosso choro convulsivo
Para ressuscitá-lo com voz de cristal,
O paraíso infantil do prazer furtivo?


Maravilhoso Baudelaire.

2 comentários:

Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Borboleta num Aquário disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Borboleta num Aquário disse...

Maravilhoso mesmo, amo Charles Baudelaire.

Esse é o poema que mais gosto:

Embriague-se, Charles Baudelaire

"É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo
horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem
descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão
morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que
gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos
martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso”. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."

Espero que goste é do livro "As flores do mal"
Bjaum