A rede

Todas às vezes em que deito numa rede, lembro da rede balançando

no terraço da casa de vovó.Quando eu era pequena as reuniões da

familia sempre era lá.

Na cozinha tinha uma mesa enorme de madeira,

tinha lugar pra todo mundo, netos, filhos, cunhadas, noras, genros.

O almoço no domingo era sagrado, já sabíamos para aonde iríamos.

Luciana que é a minha irmã mais velha não gostava muito, sempre ficava

reclamando, porque tinha que acordar cedo, que era chato, só tinha adulto.

O açude era bem pertinho, sempre apostávamos

pra ver quem chegava primeiro pra tomar banho,

claro que eu magrinha e pequena,

parecia mais o papá léguas, ganhava todas.

Vovó parecia uma criança, brincava com a gente pra lá e pra cá,

chegava até a correr também, acreditam?

Vovô era mais tímido, contido, mas era muito sábio,

aprendeu a ler sozinho, criou doze filhos só vendendo galinha.

Mamãe sempre contou que vovô era um guerreiro, um exemplo de vida,

um sertanejo de muita força e que tinha muita bondade no coração.

Nunca mais esqueço daquele dia, em que fui deitar na rede com vovó,

e fui eu que contei a história para ela dormir.

Se aquele rede tivesse boca para contar tudo o que já fiz na casa dela,

não sei o que seria de mim.

(Gabriella Grisi)